Um roteiro lírico por Belém do Pará que eu amo em seus 400 anos
Texto: Rogério Almeida
Fotos: Rogério Almeida, Secretaria de Turismo do Estado do Pará (SETUR), SEGETUR e Divulgação do Turismo de Belém do Pará.
No dia 12 de janeiro de 2016, a cidade de Belém do Pará completou 400 anos e para comemorar a data nada melhor do que fazer um passeio a pé pelo centro desta cidade que eu amo e é uma das mais antigas do Brasil.
Meu roteiro começa no Hilton Belém, hotel em que me hospedei.
Conhecido anteriormente como o Grande Hotel, foi o primeiro hotel construído por um grupo britânico , fora de Londres, pela rede InterContinental Hotels Group.
O hotel foi demolido para dar lugar ao atual Hotel Hilton Belém, onde hoje é um dos hotéis mais importantes de Belém, possuindo 18 andares com 361 apartamentos.
Em 2008, o Hotel Hilton Belém concorrendo com 300 unidades Hilton, recebeu desta cadeia de hotéis o Prêmio Diamante, como o melhor hotel das Américas em atendimento ao hóspede.
Do hotel a pé fui assistir a um espetáculo de Ópera no Theatro da Paz (FOTO). Ao chegar no local, minha sensibilidade aflorou porque antes de conhecer Belém, eu era um grande amigo do maestro Waldemar Henrique, que sempre me convidava para conhecer a capital do Pará.
E agora chegando pela primeira vez a Belém e ao Theatro da Paz, sem encontrar Waldemar Henrique, falecido em 1995, foi muito triste.
Soube que o maestro deixou um legado de cultura para o estado e foi diretor do Theatro da Paz no período de 1964 a 1979, e fez dos camarins a sua casa por alguns anos.
Maestro Waldemar Henrique ( *Belém do Pará (15 de fevereiro de 1905, + Belém, 29 de março de 1995)
Maestro, que saudade e que beleza conhecer a sua casa. Que Deus o tenha e o cuide com muita luz e sabedoria!
No último dia 15 de fevereiro, na mesma data de fundação do Theatro da Paz, e se vivo fosse Waldemar Henrique estaria completando 111 anos, a cantora líria Gabriella Florenzano prestou uma homenagem ao maestro interpretando Uirapuru. Imperdível e inesquecível!
Ao visitar o Theatro da Paz fiquei também feliz em saber que o maestro Carlos Gomes embora nascido em São Paulo, encenou aqui sua mais famosa ópera, O Guarani e faleceu em Belém no dia 16 de setembro de 1896 e que este ano se comemora os 120 anos de sua morte.
Busto de Carlos Gomes no Theatro da Paz
O Theatro da Paz , originalmente se chamava Theatro Nossa Senhora da Paz, nome que foi dado pelo Bispo da época Dom Macedo Costa, em homenagem ao fim da guerra do Paraguai. Porém à critério do próprio Bispo que achava que o nome de Nossa Senhora talvez fosse indigno para figurar na fachada de um espaço com apresentações mundanas, o nome foi reduzido e ficou só com a Paz.
Hall de entrada do Theatro da Paz
Inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, o Theatro da Paz foi construído com recursos oriundos da exportação do látex, no Ciclo da Borracha e manteve o status de ser o maior teatro da região norte até ser ser superado pelo Teatro Estadual Palácio das Artes de Rondônia, hoje um dos teatros-monumentos do país.
O Theatro da Paz tem sido palco de shows de grandes nomes da música brasileira. A cantora Fafá de Belém se apresentou no Theatro da Paz várias vezes, sendo uma delas como parte do projeto Varanda de Nazaré, com o objetivo de apresentar o potencial turístico e cultural do Círio de Nazaré.
Bustos simbolizando as artes: Dança, Poesia, Música e Tragédia, na visita guiada imperdível que fiz pelo teatro e que recomendo à todos!
Ao ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), o presidente desta entidade selecionou o Theatro da Paz como uma das 14 mais belas jóias do patrimônio brasileiro!
Em seguida a pé do Teatro fui até a Estação das Docas, um complexo turístico e cultural de Belém e inaugurado em 13 de maio de 2000.
Aqui como presidente da organização internacional Companheiros das Américas Comitê Paraíba- Connecticut, fundada pelo então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, fui recepcionado com um almoço no restaurante Armazém 1, pela presidente do Comitê Pará- Missouri dos Companheiros das Américas, Maria Helena Mommensohn, e integrantes do Comitê.
Armazém 1 na Estação das Docas (Foto: Estação das Docas)
A Estação foi resultado de um trabalho de restauração dos armazéns do porto da capital paraense. Originalmente foram três galpões de ferro inglês, exemplo da arquitetura característica da segunda metade do século XIX. Os guindastes externos foram fabricados nos Estados Unidos, no começo do século XX. Já a máquina a vapor em meados de 1800, fornecia energia para os equipamentos do porto.
Ruínas do Forte de São Pedro Nolasco na Estação das Docas (Foto: Estação das Docas)
As ruínas do Forte de São Pedro Nolasco, onde foi construído um Anfiteatro, foram originalmente construídas para a defesa da orla em 1665. O espaço foi destruído após o Movimento da Cabanagem, em 1825, e revitalizado para a inauguração da Estação.
O complexo congrega diversos aspectos, entre eles: gastronomia, cultura, moda e eventos. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns e um terminal de passageiros, uma janela para Baía do Guajará e a ilha das onças.
Da Estação caminhei cerca de 10 minutos até o Mercado Ver-o-peso. Vir a Belém e não visitar esta que é considerada a maior feira ao ar livre da América Latina, é o mesmo que ir à Roma e não ver o papa.
Inaugurado em 1901, foi candidato a uma das 7 Maravilhas do Brasil e é considerado um dos mercados públicos mais antigos do Brasil.
No século XVII, onde hoje funciona o Mercado Ver-o-Peso, numa área que era formada pelo igarapé do Piri, os portugueses instalaram um posto de fiscalização e tributos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias (Belém-PA). Este posto foi denominado Casa de Haver o Peso, que também tinha como atividade o controle do peso dos produtos comercializados. No início do século XIX, o igarapé Piri foi aterrado e, na sua foz, foi construída a doca do Ver-o-Peso.
Praça do Relógio (Foto Divulgação)
A Casa de Haver o Peso funcionou até meados do ano de 1839, após a revolta popular denominada Cabanagem (1835-1840). Em 1901 foi inaugurado o Mercado de Ferro, com toda a estrutura de ferro trazida da Europa em estilo art nouveau da belle époque que ficou conhecido como Ver-o-Peso, sendo tombado pelo IPHAN, em 1977 e hoje compreende uma área de 35 mil metros quadrados, que além do Mercado de Ferro, possui Mercado da Carne, Praça do Relógio (FOTO), Doca, Feira do Açaí, Ladeira do Castelo, Solar da Beira e Praça do Pescador.
Saindo do Mercado Ver-o-Peso paço pela Praça do Relógio rumo à Catedral da Sé, Museu de Arte Sacra e Forte do Presépio.
Catedral Metropolitana de Belém (Foto: Divulgação)
A Catedral Metropolitana de Belém conhecida como Catedral da Sé, faz farte do complexo histórico e religioso da cidade velha, denominado Feliz Lusitânia.
Em estilo neoclássico e com perfil mais barroco-rococó, a Catedral da Sé de Belém tem um nicho com uma estátua de Nossa Senhora. A construção foi totalmente concluída em 1782.
A catedral é parte importante da tradicional celebração do Círio de Nazaré, maior procissão do mundo ocidental. Após uma missa na catedral, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré parte em procissão da catedral até a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
Museu de Arte Sacra de Belém (Foto: Divulgação)
Depois da visita a Sé, fomos visitar o Museu de Arte Sacra (MAS) do Pará. Localizado no Antigo Palácio Episcopal, foi inaugurado em 28 de setembro de 1998. Integrada ao Museu está a Igreja de Santo Alexandre (originalmente Igreja de São Francisco Xavier), construída pelos padres jesuítas com participação do trabalho indígena entre o fim do século XVII e início do século XVIII.
Museu de Arte Sacra em Belém (Foto: Divulgação)
Imperdível a visita ao Museu que abriga mais de 400 peças, com imagens e objetos sacros dos séculos XVIII ao XX. As coleções, a princípio constituídas pelas peças da própria Igreja de Santo Alexandre, foram depois enriquecidas com peças provenientes de outras igrejas do Pará e de coleções particulares.
Serviço: Museu de Arte Sacra ( Pça. Frei Caetano Brandão, s/n – Arcebispado – Cidade Velha. Belém. Tel: (91) 4009-8805 / 4009-8838
Forte do Presépio e Casa das 11 Janelas (Foto: Divulgação)
Depois do Museu uma parada no Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém, mais conhecido como Forte do Presépio. Na Baía do Guajará, na ponta de Maúri e à margem direita do foz do rio Guamá, o Forte domina a entrada do porto de Belém e o canal que costeia a Ilha das Onças.
Aqui é o local do início do povoado de Nossa Senhora de Belém, do levante dos índios Tupinambás (1617-1621), quartel-general dos revoltosos da Cabanagem (1835-1840), hospital, casa dos flagelados da seca no nordeste do Brasil, quartel durante a II Guerra Mundial, sede social do Círculo Militar de Belém e berço da capital do Pará.
Forte do Presépio (Foto: Wikipedia)
Nas instalações do Forte do Presépio, vale uma visita ao Museu do Encontro, que narra o início da colonização portuguesa na Amazônia.
Casa das Onze Janelas (Foto:Wikimapia)
Junto ao Forte está a Casa das Onze Janelas ou Palacete das Onze Janelas. Construída no século XVIII como residência de Domingos da Costa Barcelar, senhor de engenho, a casa foi adquirida em 1768 pelo governo do Grão- Pará para abrigar o Hospital Real.
Hoje faz parte do conjunto arquitetônico e paisagístico denominado Feliz Lusitânia e além do espaço museológico é a casa do ‘Boteco das Onze,’ um dos restaurantes mais qualificados de Belém.
A área que envolve a Casa das Onze Janelas possui um conjunto de equipamentos culturais, como o Jardim de Esculturas, o Navio Corveta e o palco, que se projeta sobre a bela vista da Baía de Guajará.
Espaço São José Liberto (Foto: Divulgação)
Em seguida chegou o horário das compras e nada melhor do que uma visita ao Espaço São José Liberto ou Polo Joalheiro.
Construído em 1749, pelos frades capuchos de Nossa Senhora da Piedade, como Convento de São José, com a expulsão dos jesuítas do Brasil, pelo Marquês e Pombal, o local passou por muitas mudanças sendo transformado em hospital e até em cadeia publica, mas em 2002 deu lugar ao espaço São José Liberto que abriga: a Capela São José (onde acontece concertos de música sacra); uma ourivesaria; um polo joalheiro; a Casa do Artesão; o Museu de Gemas do Pará; o anfiteatro Coliseu das Artes; o Memorial da Cela, e; o Jardim da Liberdade. Impossível sair daqui sem comprar uma joia como lembrança do Pará.
Depois do Espaço São José Liberto fomos para o entardecer no Mangal das Garças.
Mangal das Garças (Foto: Divulgação)
Inaugurado em 12 de janeiro de 2005, às margens do rio Guamá, em pleno centro histórico, o parque ecológico, com entrada franca, é resultado da revitalização de uma área de 40.000 m², uma verdadeira miniatura do ambiente amazônico no coração da capital paraense.
O local presenta mais de trezentas espécies de árvores nativas e muitos atrativos como o Museu Amazônico da Navegação, Manjar das Garças, um dos melhores restaurantes de Belém, Viveiro das Aningas ou Viveiro dos Pássaros, onde o visitante tem contato direto com uma impressionante quantidade de pássaros, o Farol de Belém, com 47 metros de altura, Borboletário (Reserva José Márcio Ayres), Orquidário, Criatório e Viveiro de Plantas e o Armazém do Tempo, com souvenires do Pará.
Museu Emílio Goeldi (Foto: Divulgação)
Depois do Mangal dos Garças, não se pode deixar de dar uma esticada ao Museu Paraense Emílio Goeldi.
Vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação possui um dos maiores acervos nas áreas de ciências naturais e humanas relacionados à Amazônia, além de promover pesquisas e estudos científicos dos sistemas naturais e culturais da região.
É a mais antiga instituição na região norte e reconhecido mundialmente como uma das mais importantes instituições de investigação científica sobre a Amazônia brasileira.
O Museu homenageia ao naturalista suíço, Émil August Goeldi (Emílio Goeldi), demitido do Museu Nacional por questões políticas, após a Proclamação da República e zoólogo assumiu a direção do Museu transformando-o em um grande centro de pesquisa sobre a região amazônica.
O Museu Emílio Goeldi é o mais famoso Parque Zoobotânico do Brasil. Possui cerca de 2.000 árvores nativas da região,, e 600 animais, muitos deles ameaçados de extinção. O Parque recebe mais de 400 mil visitantes anualmente, e é uma referência mundial.
Círio de Nazaré (Foto:Secretaria de Turismo do Estado do Pará)
O roteiro lírico por Belém só poderia terminar com uma visita à Basília de Nossa Senhora de Nazaré e ao Memorial do Círio.
Considerada a maior festa cristã do Brasil e a maior procissão católica do mundo, o Círio de Nazaré acontece anualmente no segundo domingo de outubro, reunindo mais de dois milhões de fiéis.
O Círio, em devoção a Nossa Senhora de Nazaré, é celebrado em Belém do Pará desde 1793. Toda a programação se estende por quinze dias, durante a chamada quadra Nazarena. E inclui a romaria fluvial, romaria rodoviária, moto-romaria, transladação, procissão do Círio, o Círio propriamente dito e o recírio.
A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré é a única basílica da Amazônia. Construída no início do século passado, a basílica possui o interior todo de mármore e foi inspirada numa obra-prima arquitetônica italiana: a basílica romana São Paulo Fora dos Muros.
Fontes de Pesquisa: Belemtur, Wikipedia, Wikimapia, Museu Emílio Goeldi, Secretaria de Estado de Turismo do Pará, Abrajet Pará, OS Pará 2000 (Estação das Docas e Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia e Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama)