Pelos caminhos de Dom Quixote de La Mancha
Texto e fotos: Rogério Almeida
M iguel de Cervantes Saavedra (1547-1616), foi o autor do livro mais famoso da Espanha. Intitulado “O engenhoso fidalgo Don Quixote de la Mancha”, a obra composta por 126 capítulos, foi publicada em Madri, em 1605 e hoje é considerado o primeiro romance moderno e o expoente máximo da literatura espanhola literatura espanhola no mundo. E em 2002, foi eleita a melhor obra de ficção de todos os tempos.
Acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança que montava um burrico, Dom Quixote com seu cavalo Rocinante, torna-se cavaleiro andante e percorre as pequenas vilas e planícies de La Mancha, uma região autônoma da Espanha com seus moinhos de vento e lugarejos como El Toboso, que estão do mesmo jeito como foram narrados pela maior mito ibérico de todos os tempos.
Don Quixote, cujo nome de batismo era Alonso Quijano, era uma figura patética e foi chamado por Cervantes, como o cavaleiro da triste figura.
Nosso roteiro se inicia em Madri, quando tomamos um veículo com direção a Alcalá de Henares, que fica a 36 km da capital espanhola.
Igreja de Alcalá de Henares onde foi batizado Cervantes
Trata-se da primeira cidade universitária planificada do mundo e foi usada como modelo ideal de universidades da Europa e por isso foi inscrita como Patrimônio Mundial da Unesco. Aqui, dizem, nasceu Miguel de Cervantes de Saavedra, no dia 29 de setembro de 1547, a praça principal possui sua estátua e recebe a visita de milhares de turistas do mundo inteiro.
Sua suposta casa ainda está lá na Calle Imagen, 2, e abriga o Museu Cervantes
Cervantes, segundo os historiadores, lutou na batalha naval de Lepanto (1571), foi preso duas vezes (pelos turcos e por dívidas), e morreu em Madri, em 1616, aos 69 anos, pouco mais de um ano após ter concluído Dom Quixote.
Saindo de Alcalá de Henares, que hoje pertence a Comunidade de Madri, seguimos para o vilarejo de Alcázar de San Juan, na província de Ciudad Real, no coração da comunidade autônoma de Castilla- La Mancha, a 152 km da capital espanhola.
Praça de Cervantes em Alcalá de Henares
A Igreja de Santa María a Maior, construída sobre uma antiga mesquita, e que em 1226 passou a fazer parte da Ordem de São João, ainda guarda a certidão de batismo de Miguel de Cervantes. Anos mais tarde em 1753, foi também encontrado uma outra certidão de batismo em Alcalá de Henares, o que mantem até hoje a polêmica onde de fato nasceu o autor.
Em Alcázar de San Juan se encontra o Museu do Fidalgo, numa casa do século XVI e que representa bem como era a vida dos fidalgos manchegos que inspiraram a figura de Dom Quixote de la Mancha.
MOINHOS DE VENTO EM MOTA DEL CUERVO (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
No campo o que mais chama a atenção são os quatro Moinhos de Vento, sendo um deles transformado em Centro de Interpretação da Paisagem Manchego.
No capítulo VIII de Dom Quixote há um episódio em que o cavaleiro andante, ao chegar a uma planície, confunde cerca de trinta moinhos de vento com gigantes, decidindo enfrentá-los sozinho.
Sancho, seu escudeiro, ainda tenta alertá-lo da ilusão, mas Quixote insiste e parte para o ataque a um dos moinhos, sendo derrubado juntamente com seu cavalo Rocinante por uma das pás.
Em seguida, Sancho vai ao socorro do seu mestre e o questiona sobre como como pôde cometer tamanho engano. Quixote responde, insistindo na ilusão, que aquilo era obra do mago Friston, que tinha transformado os gigantes em moinho para impedir sua glória.
Esse episódio é a origem da expressão “lutar contra moinhos de vento”, no sentido de atacar inimigos imaginários ou de realizar esforços em vão.
Embora com muito humor, o livro apresenta tópicos ainda hoje preciosos, como o caráter, as lutas inglórias, a amizade e o amor incondicionais e a compaixão.
Depois de Alcázar de San Juan, seguimos para Argamasilla de Alba, aqui Cervantes, foi aprisionado na Casa de Medrano (século XVI), começando a escrever sua obra-prima, Dom Quixote.
O monumental Castelo de Peñarroya, do século XVIII, situado a 12 quilômetros de Argamasilla de Alba, se constitui em uma das portas de entrada do parque nacional das Lagunas de Ruidera.
Na Igreja de São João Batista em Argamasilla de Alba, se encontra o quadro da Virgem da Caridade de Illescas, com a figura do fidalgo Rodrigo de Pacheco, o qual segundo a tradição, Cervantes se inspirou para a criação do personagem Dom Quixote.
Depois de Argamasilla de Alba, seguimos para o Campo de Criptana, que conserva alguns moinhos de vento originais e que inspiraram Miguel de Cervantes.
“Neste lugar se descobriram trinta ou quarenta moinhos que haviam naquele campo” (1,8), descreve Cervantes.
Aqui, Dom Quixote enlouqueceu de vez. “Valha-me Deus!”, gritou Sancho Pancho, ao vê-lo investir, galopando Rocinante, lança em riste, contra os moinhos de vento que seu cérebro leviano confundia com gigantes. Quixote esborrachou-se no chão. Um vexame!
Cinco séculos mais tarde, os moinhos continuam lá. Dos 32 originais, resta a metade. Há outros junto às cidades de Consuegra e Mota del Cuervo.
Campo de Criptana possui ainda hoje três moinhos do século XVI: Infanto, Burleta e Sardinero, declarados bens de interesse cultural, com suas estruturas e mecanismos da mesma forma do tempo de Cervantes. Mais dez moinhos na Serra completam o conjunto.
Junto ao Campo de Criptana se vê o bairro de Albaicin, com suas ruas manchegas, estreitas e suas casas de telhado árabe, pintadas de branco e azul.
O Moinho Culebro se transformou em Museu Sara Montiel, em homenagem a famosa cantora e atriz de cinema, conhecida pelo filme “La Violetera”. Quadros, desenhos, fotografias, um piano e o busto da renomada atriz, bem como suas vestimentas, e sapatos atraem visitantes de todo o mundo.
Depois seguimos para El Toboso, a Pátria de Dulcinea, o grande amor de Dom Quixote. Além dos moinhos do Campo de Criptana e Mota del Cuervo, foi o lugar que mais me impressionou.
CASA DE DULCINEA EM TOBOSO (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
A Casa de Dulcinéa, quase um palácio, e hoje Museu, era a mansão da senhora Ana Martinez Zarco de Morales, hoje renovada, e que serviu de inspiração para Cervantes, que a chamava de a Doce Ana, daí Dulcinea. A mansão ainda mantém sua estrutura do século XVI e conserva o mobiliário da época.
PRAÇA COM DOM QUIXOTE E DULCINEA EM TOBOSO (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
Na praça principal, há uma estátua bem moderna de Dom Quixote e a bela Dulcinea, e o Museu Cervantino, com mais mais de 300 exemplares do livro em mais de 60 idiomas. Possui desde um fac-símile do manuscrito original de Cervantes, até obras do mundo inteiro. Percebi que havia uma edição brasileira doada pelo ex-presidente Lula, quando visitou o lugar.
FILME DE DOM QUIXOTE- (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
O Capítulo IX da segunda parte de Dom Quixote narra a visita do cavaleiro andante e Sancho Pança a Toboso em busca de Dulcinea.
IGREJA PAROQUIAL DE SANTO ANTONIO ABAD EM EL TOBOSO (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
Quem chega a Toboso, se vê diante da monumental Igreja Paroquial de Santo Antonio Abad. Monumento de interesse cultural, considerada a “Catedral de La Mancha”. Pertence a última época do gótico, séculos XVI e XVII, com uma torre imensa, sacristia e batistério.
Aqui no capítulo IX, Cervantes escreveu “…con la iglesia hemos dado, Sancho…”, ou seja “com a igreja ninguém pode, Sancho!”.
CASTELO BELMONTE (FOTO: ROGERIO ALMEIDA)
Depois de El Toboso seguimos para visitar o Castelo de Belmonte, que pertencia à duquesa de Alba, já falecida, e fidalga com mais títulos nobiliárquicos que a Rainha Elisabeth da Inglaterra.
O monumental palácio-fortaleza, de estilo gótico-mudéjar, se eleva diante do Morro de São Cristovão, ao sudoeste da província de Cuenca.
Aqui foi filmado El Cid, em 1961, com Sophia Loren e Charlton Heston. O castelo foi mandado construir pelo Marquês de Vilhena em 1456.
Foi residência da nobre Imperatriz Eugenia de Montijo. Pertenceu à congregação de Dominicanos e chegaram a clicar uma capela nas antigas cavalariças medievais.
Hoje é propriedade da Casa Ducal de Peñaranda, dos herdeiros da Duquesa de Alba, irmã da Imperatriz Eugenia de Montijo.
Anualmente, no primeiro final de semana de setembro é realizada uma feira medieval no pátio de armas.
E em Belmonte, concluímos a “Rota de Sonho”, também chamada de “O país de Dom Quixote”.
Quem chega em Madri, várias agências de viagens oferecem o pacote de um dia para quem deseja conhecer a rota do cavaleiro andante, embora uma ficção tudo parece muito real, de como era no tempo de Cervantes. Recomendo!
SERVIÇO:
Onde ficar: El Paraíso de Don Quijote. Carretera Miguel Esteban. www.paraisodedonquijote.com, ou pelo fone: 925-197 271.
Onde comer:
- Restaurante Dulcinea de El Toboso- Carretera de Quintanar, 3 Fone: 925-568-05583. www.hrdulcinea.net,
- Restaurante El Quijote. Avenida Castilla La Mancha, 41. Fone: 925-197.398. www.restauranteelquijote.com
- Casa Gastronômica El Rincón de la Mancha – Carretera de Quintanar, 2. Fone :925 197-604 email: rincondelamancha@hotmail.com.
Onde obter informações: Oficina de Turismo de El Toboso (Calle Daoiz Y Velarde, 3. 45820. El Toboso. Fone: 925 568 226. oficinadeturismo@eltoboso.es