O ocaso de Norma Bengell
Considerada a diva e sex symbol nos tempos áureos do cinema brasileiro, Norma Bengell, nascida Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães d'Áurea Bengell, no Rio de Janeiro, a 21 de fevereiro de 1935, vive hoje com grandes dificuldades financeiras e no ostracismo. Na casa espaçosa onde mora, na Gávea (RJ), a atriz passa o dia num canto, sentada numa poltrona ou de cadeira de rodas, vendo TV. Ao alcance da mão, uma garrafa d’água e dois maços de cigarro. Quando precisa se levantar, aperta uma campainha e chama a acompanhante, Vilma Gomes, que trabalha para ela há duas décadas. Para virar o corpo para a foto, ela tem dificuldades; para mudar o braço de posição, também. Aos 75 anos, sem filhos e viúva, a mulher que foi uma das principais estrelas do país, presente na música, no teatro, na TV e, sobretudo, no cinema, passa semanas sem sair de casa, sem uma fonte de renda regular há mais de um ano e, diz, sem poder saldar as dívidas acumuladas. O último papel de Norma foi na televisão, como a personagem Deise Coturno no humorístico “Toma lá, dá cá”, da TV Globo, encerrado em dezembro de 2009. Pouco depois, ela escorregou num tapete de casa, sofreu um tombo e precisou operar a coluna e o cotovelo. Dali em diante, a atriz só deixou sua casa para ir ao hospital e para dar entrada no pedido de aposentadoria, que ainda não saiu. Uma segunda queda provou lesão medular e hoje se desloca de cadeira de rodas e faz sessões de fisioterapia, cinco vezes por semana. O passado de Norma Bengell é glorioso. Foi a primeira atriz brasileira a apresentar-se em uma cena de nu frontal, no filme Os Cafajestes, de 1962, tendo estreado em 1959 e atuado em mais de 60 filmes nacionais e estrangeiros. Sua consagração veio com o filme O Pagador de Promessas, primeiro e único longa-metragem brasileiro a receber a Palma de Ouro, no Festival de Cannes, tendo concorrido ao Oscar de melhor filme estrangeiro, onde Norma fez o papel da prostituta Marli, dirigida por Anselmo Duarte e baseado em peça de Dias Gomes. Em 1996, Norma tentou a carreira de diretora, realizando, nessa função, o filme O Guarani, baseado na obra do romancista José de Alencar. Na época, usou leis de renúncia fiscal para levantar R$ 2,99 milhões. O Ministério da Cultura e o Tribunal de Contas da União identificaram irregularidades na prestação de contas e o caso foi parar na Justiça. Por causa disso até hoje os bens e as contas bancárias da atriz se encontram bloqueadas. Norma jura que concluiu o filme tendo o mesmo sido apresentado em horário nobre na Rede Globo. Aos 76 anos, Norma Bengell fuma bastante. Já tentou parar, mas nunca conseguiu. E vive cercada de prêmios, fotos antigas e cartazes de filmes. Já vendeu as jóias e quadros e alguém até sugeriu que ela fosse morar no Retiro dos Artistas, mas a atriz considera sugestão de um bobo, pois suas lembranças estão todas espalhadas na casa que vive na Gávea. Viúva do ator italiano Gabrielle Tinti, com quem viveu por 30 anos, sem filhos, Norma recorre à ajuda de amigos para sobreviver. Entre eles, Fausto Silva (apresentador) e o cantor Elymar Santos. Já pensou em apelar para o Sílvio Santos, mas ainda alimenta um sonho. O de fazer um filme sobre a própria vida. Diz que de sonhos já vive. Agora falta só fazer o roteiro.