Sam Porto na Vogue digital de fevereiro
Sucesso absoluto da última edição de São Paulo Fashion Week, realizada em outubro, o modelo trans, representado pela Agência Rock MGT, de Clovis Pessoa, estampa a capa da edição digital da Vogue Brasil.
Além marcar presença em um editorial pra lá de especial, Sam concedeu uma entrevista exclusiva ao veículo. Confira alguns trechos do bate-papo:
Vogue: Você foi recordista de desfiles masculinos na última temporada do SPFW. Acredita que hoje a moda está mais diversa?
Sam Porto: A visibilidade trans está melhorando. Nunca teve nenhum menino trans, só meninas. Eu acho que aos pouquinhos estão abrindo mais portas para nós, dando mais espaço, mas ainda não está totalmente inclusivo. O desfile da Cavalera passou uma mensagem muito forte. A começar pelo casting que era 80% negro, o que não é comum. Foi minha sugestão escrever “respeito trans” no peito [Sam fechou o desfile e tirou a blusa exibindo a frase], porque quis representar quem eu sou. Eu implorei por respeito devido ao altíssimo índice de morte de transgêneros no Brasil. É o mínimo que precisamos.
Você acha que hoje você é um dos principais representantes transgêneros na moda?
Eu carrego um papel muito importante e sinto isso pelo retorno que recebi da galera. Estou levando uma representatividade muito forte, porque em questão de trabalho nós somos muito marginalizados. Quase não tem oportunidades. Então acredito que estou sendo uma referência para encorajar muita gente a ir atrás dos sonhos, se jogar mesmo, e acreditar que a gente pode e é capaz de estar em qualquer lugar e exercer qualquer função, conseguimos tanto quando as pessoas cis.
Numa entrevista, você disse que nunca teve uma transição. O que quis dizer exatamente?
Desde pequeno sempre fui desse jeitinho que eu sou. Sempre me impus muito e nunca tive uma aparência dita pela sociedade “feminina”. Eu nunca usei vestido, maquiagem, cabelo solto… Então eu não tive essa transição drástica da aparência feminina para masculina. Eu sempre fui muito moleque. Depois que eu entrei na fase adulta, aos 24 anos, comecei a fazer o tratamento hormonal, logo depois de passar pela mastectomia.
Como foi passar pela cirurgia? Você se preparou psicologicamente?
O meu sonho era fazer a cirurgia, porque a minha maior disforia era em relação aos meus seios. Eu não gostava de andar na rua e saber que estavam marcando na camiseta e que as pessoas estavam me olhando… Eu sentia que eu era o tempo todo julgado. Me sentia mal, disfórico ao olhar no espelho. Não conseguia me divertir, ia ao clube e não entrava na piscina, por exemplo. Comecei um tratamento no ambulatório trans de Brasília, onde me deram todo suporte possível psicológico para eu me preparar para a cirurgia e para o hormônio. Decidi fazer e foi libertador! Quando me olhei no espelho, finalmente me vi como eu sempre me imaginei. Pensei como eu já tinha sofrido por usar o binder, que é uma faixa compressora para disfarçar o volume dos seios que machuca muito. Então me senti leve, feliz e completo. Foi um turbilhão de sentimentos que não faz eu me arrepender.