Viver a experiência da maternidade é o sonho de muitas mulheres. A chegada de um filho, porém, muda significativamente todos os aspectos da vida da recém-mãe. E as mudanças não são sutis; optar por ter um filho implica em transformações que afetam, inclusive, a vida profissional.

Apesar da existência de leis que promovem a igualdade de gênero e asseguram a inserção de mulheres no mercado, o mundo corporativo não costuma ser gentil com mulheres que passam pela experiência da maternidade. Desigualdade salarial, poucas oportunidades de desenvolvimento profissional, falta de apoio e flexibilidade no tempo de trabalho são algumas das dificuldades enfrentadas diariamente por mães que buscam dar continuidade à vida profissional depois da chegada dos filhos.

Márcia Peixoto, psicóloga especialista em RH e diretora da Roots Talent, explica que conciliar o mundo da maternidade e do trabalho é desafiador, mas não inviável. “Percebo que após ser mãe e passar um tempo longe, a mulher volta em outro ritmo, e é necessário que ela se conecte novamente. É importante que haja um processo para se situar e se atualizar de todas as informações do ambiente de trabalho. Mas esse é um processo normal, com pouco tempo, a profissional já está adaptada”, disse.

Os desafios emocionais também são grandes. Muitas mulheres, após os meses de licença maternidade, não se sentem preparadas para ficarem longe de seus bebês. E a falta de flexibilidade das empresas acaba sendo um grande obstáculo nesse processo, levando algumas a desistirem de suas carreiras por não encontrarem um ambiente que favoreça uma readaptação justa e confortável. “As mães criam um laço tão forte com seus filhos, que diante de um afastamento brusco, preferem desistir do trabalho. Muitas, inclusive, são demitidas. É mais cômodo para a empresa desligar uma colaboradora a oferecer condições mais empáticas para que ela volte”, explica a psicóloga.

Diante desse cenário complexo, Márcia compartilha algumas medidas que podem ser tomadas pelas empresas para tornar o retorno das recém-mães ao mercado de trabalho mais simples e eficaz:

Flexibilidade de tempo – No início, a possibilidade de que a mãe passe mais tempo com sua criança é essencial. Por isso, a liberação do home office é uma boa alternativa para que a mãe retorne ao trabalho sem deixar o filho por muito tempo. “Essa é uma forma de readaptação menos traumática tanto para a mãe, quanto para o bebê. É importante lembrar que o afastamento brusco da mãe também gera sequelas futuras para a criança. O home office permite que a mulher retorne ao trabalho enquanto acompanha seu filho se tornar mais independente ”, afirma Márcia.

Auxílio creche – Esse é um benefício fundamental para que a mãe possa retornar ao trabalho com mais segurança. O auxílio permite que a profissional deixe o filho em um lugar próximo de seu local de trabalho, possibilitando visitas, momentos específicos para amamentação, etc. Esse auxílio pode ser concedido, inclusive, com espaços próprios dentro das empresas para que as mães deixem seus filhos e possam se dedicar ao trabalho.

Escuta ativa– No processo de retorno ao mercado pós maternidade, o acompanhamento psicológico é indispensável. “O apoio de uma escuta ativa é muito importante. As mulheres que acabaram de se tornar mães e precisam voltar a trabalhar carregam um sentimento de culpa. É difícil ter que, muitas vezes, bancar a casa, a criança, e ainda deixá-la com outras pessoas. É importante a presença de um psicólogo junto dela, dando apoio para que essa mãe possa ressignificar a angústia, a insegurança e, principalmente, a culpa”, concluiu Márcia.

A maternidade é uma experiência transformadora, mas não pode ser vista como um empecilho para o desenvolvimento da carreira feminina. Com o apoio devido, é possível conciliar os dois mundos e promover um ambiente favorável para que mulheres continuem trilhando seu caminho profissional.