Exposição
Paisagens de grandes centros urbanos vivem em constantes transições. Cidades são estruturas que crescem e se desenvolvem, criando novas imagens e nova identidade capazes de desprezar costumes e tradições. Caique Cunha percorre Williamsburg, em Nova York, registrando o processo de gentrificação no bairro do Brooklyn. Seu olhar peculiar apresenta elementos expressivos de uma localidade em transformação.
O registro de uma região ainda pouco explorada reforça o olhar e as relações entre o espaço, o tempo e seus habitantes. Elementos que dão corpo e vida a uma cidade. Utilizando-se de enquadramentos que enfatizam a dissonância entre a cultura local e o novo, Caique narra histórias, indiferenças, conflitos e complexidade de planos. As imagens apresentadas aqui foram produzidas entre 2013 e 2016, e propõem diálogo entre fotografias analógicas, digitais e instantâneas.
Esta mostra apresenta uma síntese visual da paisagem humana, arquitetônica e urbana de Williamsburg, resgatando a discussão entre as ambições estéticas da fotografia e sua função documental.
Como surgiu essa exposição?
O projeto surgiu sem a pretensão de se tornar uma exposição fotográfica. Entre 2014 e 2016 passei uma temporada em Nova York onde fiz pequenos cursos na Escola de Artes Visuais (SVA) e no Centro Internacional da Fotografia (ICP). Esses cursos demandavam prática fora das instalações das instituições. Para uma das aulas da Escola de Artes Visuais fotografei uma produção de dança em Williamsburg, Brooklyn.
Quando cheguei em Williamsburg notei uma Nova York completamente diferente. Uma Nova York em transição. Imediatamente comecei a fotografar as ruas. A registrar locais e histórias que seriam perdidas em um curto período de tempo. Durante alguns meses visitei com freqüência aquele bairro. Sempre fotografando – ora com a câmera digital, mas na maioria das vezes com o equipamento analógico. Foi quando notei que o material registrava o processo de gentrificação pelo qual Williamsburg passava. Entende-se por gentrificação o enobrecimento de uma região. O termo nasceu na década de 60, em Londres quando um grupo de pessoas mais ricas – Gentry – passou a ocupar uma região predominantemente ocupada pela classe operária. Este movimento fez com que o custo dos imóveis aumentasse consideravelmente, expulsando para a periferia os antigos moradores.
Ao retornar ao Brasil, apresentei as fotografias ao arquiteto e cenógrafo Rodrigo Santana e o convidei para a curadoria da mostra. Alguns meses mais tarde submeti o material para um edital de ocupação de uma das galerias da Escola de Artes Visuais de Nova York, onde foi exibido pela primeira vez. Em seguida abrimos a exposição no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro e em Niterói/RJ. Participamos da última edição do FIG – Festival de Inverno de Garanhuns. A mostra continua rodando o Brasil. Além de João Pessoa, também passará por Fortaleza, São Paulo e Juiz de Fora.
Mesmo Nova York sendo uma cidade cheia de cores, você preferiu usar o preto e branco. Por quê?
Ao mesmo tempo que Nova York é uma cidade cheia de cores e luzes, é também cinza. Cheia de textura e contrastes. Para esse projeto, a cor era apenas um elemento coadjuvante. Eu queria mostrar uma Nova York clássica e emotiva, paralisada no tempo. Algumas das imagens é difícil de imaginar que foram captadas em 2015, por exemplo. Esse conceito contrasta com elementos modernos, registrados em algumas fotografias, o que induz a perceber as modificações que o local tem sofrido.
Ficha Técnica
Fotógrafo: Caique Cunha
Curadoria: Rodrigo Santana
Produção executiva: Studio Rico e Valério Lima
Informações: +55 83 98616-5005
Serviço:
Exposição Williamsburg
Celeiro Espaço Criativo
Endereço: Lot. Panoramica I e II, Altiplano – João Pessoa – PB, 58033-455
Informações: (83) 3252-1418
Abertura da exposição 14/12/18 e vai até o dia 13/01/19.
* amanhã dia 14/12 as 16hs haverá um bate papo com o fotografo Caíque Cunha.
Caíque Cunha
Eu uso a fotografia como meio de auto expressão e autoconhecimento, que envolve paixão e entusiasmo. Além de fotografar palcos, desde 2005 tenho fotografado ruas de cidades como o Rio de Janeiro e Nova York. É no meio do caos dessas cidades que eu encontro a paz que preciso para fotografar a vida cotidiana. Como dito no século XIX pelo escritor brasileiro, João do Rio, em seu livro A alma encantadora das ruas … “A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu pavimento”. Isto é o que mostro em minhas fotos – a aspereza que é uma parte inerente da alma de uma comunidade. Fotografar pessoas comuns na rua, inspira a minha curiosidade e me ajuda a me entender dentro de seu contexto. É um meio de interagir com as pessoas, e de expressar a minha interpretação do seu mundo. Eu uso a fotografia para melhor expressar os meus sentimentos e pontos de vista. Fotografo em cores e em preto e branco, mas em preto e branco, eu me encontro. Ele mostra um mundo sensível e livre de interferências. Eu vejo cores em imagens monocromáticas, cheias de textura, volume, e diferentes tons de cinza.
A minha escolha por um determinado tema está relacionada com a intensidade e beleza poética que a cena transmite. Isso não significa que eu só fotografe beleza nas formas convencionais. Poesia é encontrada também na dor, na tristeza e no sofrimento, bem como na injustiça social e na indiferença. Robert Frank e Richard Sandler me influenciam. Sou atraído por artistas que fotografam com uma sensibilidade minimalista em contraste com o que é mais frequentemente visto na sociedade. Eu mergulho em um mundo interior para inspirar e documentar uma história que seria perdida em um piscar de olhos se não houvesse uma caixa preta.