Atriz Erika Januza fala sobre a solidão da mulher negra e como lida com o racismo
Em matéria, a mineira de 34 anos que está no ar na novela Amor de Mãe, da TV Globo, fala sobre a solidão da mulher negra e revela que um corte de cabelo foi gatilho para mudar seu olhar sobre o racismo.
Os seus últimos namoros públicos foram com homens brancos. Quais são as dificuldades de um relacionamento inter-racial? “Começa pela sociedade que olha julgando. Já passei por situações em que achavam que eu era ‘acompanhante’ de gringo.”
E as críticas à “palmitagem” (quando uma pessoa negra namora uma branca), como você vê? “Acredito ser semelhante à segregação. Queremos esse período de volta? Quando me interesso por alguém, a cor da pele não está em jogo. O que não podemos esquecer é da solidão da mulher negra. Não sou uma mulher que é desejada quando saio. Quando nós, negras, falamos isso, ninguém acredita. É histórico e doloroso.”
Ser mulher negra no Brasil é… “Ser preterida em muitas fases da vida, ter dores incompreendidas e batalhar dobrado. Mas, nossa, como somos fortes. Não tem outro jeito. Ser mulher negra também é ser realeza, linda e incomodar. Na outra vida, quero voltar mulher. E negra!”
Erika é consciente do seu papel dentro e fora da ficção. Para sua personagem na novela global Amor de Mãe, foi ela mesma quem sugeriu cortar o cabelo curto e assumir sua textura natural. “A ideia veio de um desejo genuíno de poder representar mais mulheres”, conta. Mas nem sempre foi assim. “Nunca falamos sobre racismo em casa. Nos entendíamos como negros e ponto. Meu primeiro contato com o assunto foi aos 26 anos, quando me mudei para o Rio e sofri ao precisar cortar o cabelo para viver uma personagem.” O motivo do choque? “Usava um aplique liso até a cintura. Naquele momento, entendi que não sabia como era o meu próprio cabelo. Foi por meio da descoberta da minha imagem e da minha beleza real que comecei a estudar sobre negritude. Olhando para trás, consigo identificar vários momentos de preconceito, mas não era parte da minha realidade. Até então, nunca havia sido uma questão para mim.” Hoje, ela faz parte do recente movimento na TV de personagens que mostram a mulher negra ocupando espaços inéditos de poder e prestígio, como Marina, a tenista interpretada pela atriz na trama das nove. “É importante ver que os conflitos da Marina não são raciais, como em geral acontece. Entretanto, não descarto papéis que expõem as problemáticas da raça na sociedade. Ainda precisamos gerar reflexão.” Com a agenda profissional cheia, ela também está no ar em Arcanjo Renegado, série do Globoplay que estreou em fevereiro.
Matéria por Luanda Vieira e fotos por Caroline Lima.