“Gente como a gente”
Reflexão, pensamento e conscientização. A Cavalera é conhecida por sempre levantar uma boa discussão através de sua moda. E, dessa vez, a marca de Alberto Hiar propõe a maior e mais profunda imersão no ser humano e em suas transformadoras histórias que falam de pessoas como você e eu.
“Elevação”, como foi batizada a nova campanha da marca – se é que podemos chamá-la apenas de campanha –, surge repleta de valores socioculturais trazendo à tona o respeito, a empatia e a consciência que a gente sonha ver em toda a esquina. Pensando nisso, a Cavalera dá voz a um grupo de pessoas que te convida a refletir sobre gênero, sexualidade, cor, preconceito, religião, bullying, intolerância e tantas outras coisas.
Triz Rutzats, ou simplesmente Triz, é um rapper transgênero não binário de 18 anos e autor da música “Elevação Mental”, trilha sonora que inspirou o nome da campanha. Em seu trecho, Triz conta que o reconhecimento do seu corpo faz parte de sua história, por isso, não se define mais como homem ou como mulher. Para ele cada um tem sua individualidade. “Seja gay, seja trans, negro ou oriental, coração que pulsa no peito é de igual pra igual”, explica em trecho de sua canção.
Danilo Borgato, hétero, branco que representa a “classe dominante” para muitos, explica como convive com as diferenças de maneira tão simples e leve. “A meu ver as pessoas não são diferentes, elas são pessoas. Tenho vários amigos gays, transexuais, negros e isso para mim não muda absolutamente nada. O preconceito me incomoda muito e me posiciono sempre. As pessoas começaram a colocar na cabeça e ditar isso como certo, mas que é totalmente errado. Somos todos iguais, somos seres humanos.”, defende Borgato.
Já Sam Gonçalves, modelo, jovem (e lindo), contou emocionado, sobre como ainda sofre preconceito por ser negro e ter vitiligo, condição rara que faz com que partes de sua pele percam a pigmentação. “Levei muito tempo para aceitar que ser diferente não era algo ruim”, lembra ele. Assim como a atriz Jessica Ellen, que não tem vergonha alguma em dizer que segue a religião do candomblé, ainda que precise enfrentar uma legião de opiniões adversas, principalmente de quem nada tem a ver com isso. “A minha crença é motivo de intolerância, sim. A nossa sociedade acredita que é mais fácil disseminar o discurso do ódio do que ter respeito pelas pessoas e suas escolhas”, conta.
O apresentador e ator Joaquim Lopes relembrou sua infância no colégio e dividiu momentos íntimos sobre bullying, agressão e gordofobia. “Eu aceitei o convite porque essa não é só mais uma campanha de moda, e sim uma campanha de causa. Nesse sentido, a Cavalera, mais uma vez, dá um passo à frente ao entender que o papel de uma marca não pode se limitar a vender roupas”, explica Joaquim, que inspirou também o ator Julio Oliveira com sua história comovente que ultrapassa as barreiras do preconceito social. “O preconceito é um músculo que precisa exercitar para não dar barriga”, diverte-se Julio.
E foi assim que uma sessão de fotos virou um vídeo depoimento…
Desde sempre, Alberto Hiar, diretor criativo da marca, acreditou que a moda tem o poder de transformar uma ideia, um movimento e até uma sociedade através de iniciativas, atitudes e bons exemplos. Por isso, sempre fez na Cavalera muito mais que moda trazendo sua porção contestadora e inclusiva a cada coleção. “Essa campanha mexeu muito comigo, pois sempre acreditei que a educação começa no núcleo familiar e, a partir daí, se formam os valores éticos, morais e sociais do ser humano. A formação das nossas crianças que estarão à frente da sociedade no futuro. Não importa se é rico, ou pobre, sua raça, cor, opção sexual, formação, ou sua crença. Eu venho de uma família simples, mas com valores riquíssimos que formaram o meu caráter, e o principal aprendizado que tive foi o respeito pelas pessoas. Cada um sabe o que precisa para ser feliz e isso deve ser respeitado. Ouvi o rap do Triz e fiquei muito sensibilizado, principalmente, por olharmos de forma tão rasa e leviana para o outro. Somente quando enxergarmos além das aparências nós seremos capazes de respeitar as pessoas que encontramos em nosso caminho.”, reflete Alberto Hiar.
(Fotos: Renam Christofoletti)