Participação em “Habeas Pinho”
No curta-metragem “Habeas Pinho”, o ator e músico Juzé dá vida a Paulo, um seresteiro cuja trajetória se entrelaça com a obra poética de Ronaldo Cunha Lima. Paulo tem seu violão apreendido, mas o instrumento é liberado graças ao histórico poema-petição de mesmo nome escrito por Ronaldo. Essa história, que mistura poesia e a luta pela liberdade de expressão, é mais que um simples relato: é uma celebração da cultura nordestina e da resistência artística.
O artista, que já emocionou com suas composições e atuações, como nas novelas “Rancho Fundo” e “Mar do Sertão”, traz para o filme a autenticidade e o amor pela arte que o acompanham desde os 15 anos.
Na entrevista que segue, o ator compartilha sua experiência de interpretar Paulo, reflete sobre a mensagem de liberdade de expressão presente no filme e destaca momentos que acredita que tocarão o coração do público.
Juzé, como você se sentiu ao interpretar Paulo, o seresteiro no poema “Habeas Pinho”? O que mais te atraiu nesse personagem?
Eu me senti muito emocionado e lisonjeado com o convite de Gal Cunha Lima [Produtora executiva e filha de Ronaldo]. A história de Paulo se confunde muito com a minha própria história, de tocar na rua, fazer serestas, levar reclamação da polícia, até pedrada de vizinho. Isso mexeu comigo de primeira, já conhecia a história e sabia da beleza de “Habeas Pinho”, aceitei o papel sem pensar duas vezes.
A história de “Habeas Pinho” é inspirada em um poema de Ronaldo Cunha Lima. Como foi para você colaborar com Lucas Veloso, que interpreta o poeta? Houve alguma preparação especial para essa dinâmica?
Conheço Lucas há 10 anos e temos uma grande amizade, isso “deu liga” na colaboração das cenas que fizemos juntos. A vida foi nossa preparação, e estar em cena com ele foi uma honra. Ele é muito talentoso, e foi uma alegria contracenar com alguém que admiro.
Considerando sua carreira musical e atuação, como você vê a relação entre a poesia de Ronaldo Cunha Lima e a música nordestina?
A poesia de Ronaldo Cunha Lima é a pureza da voz do povo, o palavreado nordestino. É a lida, a luta, a lenha, a vida e está impregnada, enraizada dentro do parnasianismo, do que precisa ser feito, poeticamente, para um soneto e outras modalidades que o poeta escrevia. Ela está com o cheiro de fogueira e a poeira do vento. A música nordestina, com sua rítmica e métrica, está presente em sua poesia. Cantar um poema dele que virou música foi uma honra. Que bom que essa poesia maravilhosa está sendo contada e cristalizada em película. A relação da poesia de Ronaldo Cunha Lima com a música nordestina é essa ligação, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Rosil Cavalcanti e Biliu de Campina…é todo o ritmo, uma métrica e construção imagética de poesia com música e que faz a fotografia do povo nordestino.
”Habeas Pinho” traz uma mensagem sobre liberdade de expressão e arte. Como você acha que essa mensagem ressoa nos tempos atuais?
Essa mensagem é muito potente e relevante, especialmente em tempos de avanço do autoritarismo e cerceamento das liberdades. Voltando ao fato ocorrido, é importante a gente assistir e saber de episódios assim e que a gente fique estupefato, se espante com certas coisas como prender um violão. Era tamanho o autoritarismo que se chegava nos tempos de ditadura e precisamos estar bem vivos e de olhos abertos para o agora, porque o passado não é tão longe assim.
O que o público pode esperar ao assistir “Habeas Pinho”? Há alguma cena ou momento específico que você acredita que tocará particularmente o coração das pessoas?
As pessoas podem esperar uma história comovente e cheia de emoção. O tempo inteiro no set as pessoas estavam emocionadas, se arrepiando, chorando, porque é uma história muito forte e bonita. É uma história comovente, sobre injustiça, de poesia, de amor, uma história popular e nunca vista antes. Entre os momentos mais emocionantes vi um pouco da cena na qual Lucas/Ronaldo cria o Habeas Pinho e é uma coisa absolutamente bonita de todos os ângulos. Falando de mim, tive muitas cenas fortes, da prisão, a cena em que Paulo é expulso da delegacia ou quando é preso em frente à casa de Dafne (Mayana Neiva). São cenas que causam indignação nas pessoas e isso pode mexer com o inconsciente de quem vai assistir. Esse filme realmente vai encontrar um lugar no coração das pessoas.