Estilo Dândi II
Entretanto, dandismo é muito mais do que uma tendência particularmente duradoura (contradizendo o que se entende por tendência). Consiste na dedicação quase que religiosa à aparência, seu princípio e fim maior de existência. Um sacerdócio dedicado à excelência na indumentária e nos modos. Um estilo de vida heroico, que foge à vida ordinária.
O primeiro dândi que se tem notícia foi George Bryan, o Beau Brummel, renomado dentro dos círculos da elite londrina. Ele revolucionou os tradicionais códigos ingleses de vestimenta e etiqueta entre o final do século XVIII e início do século XX (1796 a 1816) quando favoreceu peças mais ajustadas ao corpo, de corte perfeito e cores sóbrias, determinando a cor que marcaria a vestimenta do homem burguês por todo o século XIX: o preto. Não é por acaso que, enquanto Paris ditava a moda feminina, Londres sancionava os modos e modas masculinos.
Na literatura, o dândi foi consagrado por autores como Oscar Wilde e Charles Baudelaire. Em “O pintor da vida moderna”, Baudelaire o define como alguém que não aspira ao dinheiro como a algo essencial. Um crédito ilimitado seria o suficiente, pois ele deixaria essa grosseira paixão aos vulgares mortais. O dandismo estaria além de um gosto imoderado pela toalete e pela elegância material. Para o poeta, essas coisas não são para o perfeito dândi, senão o símbolo da superioridade aristocrática do seu espírito.
Ele ainda sincroniza a perfeita indumentária com um sistema gestuário e comportamental peculiar. A atitude de indiferença diante das coisas corriqueiras da vida é o símbolo máximo da sua postura. Para Baudelaire, ele é blasé, se não o é, finge. E, acrescento, queridos leitores e leitoras, faz isso com uma naturalidade impressionante, uma indiferença que lhe parece inerente. Apesar de construir com minuciosa precisão sua personagem social, o ápice do seu artifício está em produzir o elixir da naturalidade, daí a impressão da elegância de berço, a que estaria em algum cromossomo que a ciência não desvendou.
De acordo com Mairi Mackenzie, os expoentes desse estilo de vida são George, o príncipe de Gales, Alfred Guillaume Gabriel, conde D’Orsay, Oscar Wilde e, no século XX, o jornalista Tom Wolfe. O dândi contemporâneo é o estilista Karl Lagerfeld, que reinventou o conceito da forma mais dandística possível: através da aparência, que ele cultua com devoção. Além de personificar um Dândi, ele recorrente e brilhantemente, insere o estilo nas coleções da Chanel, como fazia a própria Coco Chanel, genial inventora da marca. Como o fez também Yves Saint-Laurent.
Na foto: O estilista Yves Saint Laurent, fiel ao estilo, androginiza a mulher, como a atriz Catherine Deneuve.