Dona Sanfona n’O Maior São João do Mundo
A sanfona, um instrumento composto por um teclado, botões de baixo e um fole, é um dos pilares do forró e um símbolo marcante da musicalidade e festividade junina. Ícone presente não apenas nos palcos, mas também em letras de diversas canções de sucesso do repertório junino, esse instrumento tem um lugar especial na tradicional festa de São João.
A história da sanfona na introdução do forró e da festividade junina remonta ao século XIX, quando imigrantes europeus, especialmente alemães e italianos, trouxeram seus instrumentos de fole para o Nordeste brasileiro. Com o tempo, esses instrumentos foram adaptados às necessidades e influências musicais locais, dando origem à sanfona nordestina, que se tornou um símbolo emblemático da cultura da região.
Com uma identidade forte ligada a Luiz Gonzaga, conhecido como o “Rei do Baião”, ela se destaca nos gêneros do forró, xaxado e baião, mas sua influência não se limita a esses estilos, podendo ser encontrada até mesmo no rock. Além de ser um instrumento musical, a sanfona é a alegria personificada, dando vida aos festejos. Desde a infância até a idade adulta, aprendendo sozinho ou com a orientação de um adulto, a sanfona se torna uma parte inseparável dos sanfoneiros, como se fosse uma extensão de si mesmos.
Tão intensa é sua importância que até mesmo no nome de alguns sanfoneiros isso se reflete, como é o caso do jovem Ian Sanfoneiro. Seu amor pelo instrumento começou cedo, quando seus pais buscavam uma forma de afastá-lo um pouco das telas, mas o que se iniciou como uma estratégia se transformou em uma paixão genuína. Aos 13 anos, Ian já é um artista, não apenas tocando, mas também cantando.
Através de seu talento precoce, o sanfoneiro teve a oportunidade de cantar ao lado de grandes nomes da música, como Raí Saia Rodada, Luan Estilizado, Zezo Potiguar, Samya Maia e muitos outros artistas.
Segundo o jovem sanfoneiro, a sanfona é de suma importância em sua vida. Ele afirma que, se não fosse por ela, não estaria onde está hoje. “A sanfona não pode faltar em lugar nenhum, em nenhuma banda, nenhum trio de forró e nem na minha vida.” comenta Ian.
E assim, ocorre com vários artistas que fazem desse instrumento, um fiel companheiro ao longo de sua jornada. Aldecir Alves, de 49 anos, tem a sanfona como parte de sua vida. Começou a tocar com apenas 16 anos, acumulando três décadas de história com o instrumento.
Atualmente, ele é sanfoneiro da banda Rogério Ventura. Aldecir ressalta que a presença da sanfona transcende o forró, alcançando até mesmo o rock. Para ele, viver sem sua sanfona seria impensável. “É como Luiz Gonzaga sem forró, né? O que seria do forró sem Luiz Gonzaga?” comenta o sanfoneiro.
O cantor Dorgival Dantas, conhecido como poeta por suas belas composições, aprendeu a tocar acordeão com seu pai e, hoje, esse instrumento é parte essencial de sua identidade artística. Afinal, Dorgival não é Dorgival sem sua sanfona; é como se sua história estivesse incompleta sem esse vínculo inseparável.
“Eu não consigo imaginar como seria eu sem a sanfona, a ponto de ter até medo”, compartilha o cantor ao ser entrevistado antes de subir ao palco de O Maior São João do Mundo, no Parque do Povo, e embalar os forrozeiros ao som de sua amiga inseparável. É como se sua sanfona não fosse apenas um instrumento, mas uma parte de si mesmo. Sem ela, a essência de sua música talvez se enfraquecesse, como se algo estivesse ausente.
O relato dos artistas fazem ver que a sanfona é mais do que um instrumento musical, é também uma extensão dos sanfoneiros que a dominam. Um amor que ultrapassa gerações, uma ponte entre a tradição e a inovação. É através deste instrumento de origem alemã que a musicalidade nordestina ganha vida, fazendo parte da cultura e da identidade de todo um povo.
TEXTO: Victória Freitas | FOTOS: Luiza Dotta